Invasão verde no Velho Chico: Baronesas expõem a crise ambiental no Rio São Francisco
Plantas aquáticas se espalham por orlas e impactam pescadores, comerciantes e o turismo na Bahia e Pernambuco. Entenda por que elas indicam a gravidade da poluição e o que pode ser feito para salvar o rio.

A paisagem às margens do Rio
São Francisco, especialmente nos municípios de Paulo Afonso (BA), Glória (BA) e
Jatobá (PE), vem chamando atenção pelos motivos errados. O que antes era
cenário de lazer, turismo e pesca, hoje está tomado pelas baronesas,
plantas aquáticas que se multiplicam em ambientes poluídos.
Com aparência verde e densa,
essas plantas cobrem boa parte da superfície do rio, dificultando a navegação,
afetando a pesca, a criação de peixes em tanques-rede e afastando turistas.
Um problema visível, mas
silencioso
As baronesas são indicadoras
de que o rio está contaminado por matéria orgânica em excesso,
proveniente principalmente do despejo de esgoto sem tratamento,
resíduos industriais e lixo urbano. Seu crescimento acelerado causa eutrofização da
água — processo que reduz o oxigênio e mata peixes e outros organismos
aquáticos.
Além disso, as baronesas se
tornam abrigo para insetos transmissores de doenças e atrapalham a captação de
água para abastecimento humano.
Moradores e comerciantes
sentem os impactos
Os prejuízos não são apenas
ambientais. Segundo Osvaldo Santos, comerciante em Paulo Afonso, o impacto no
turismo é direto:
“Com a baixa procura e poucas
vendas, tivemos que reduzir o quadro de colaboradores. É preocupante a
situação, sem contar com a poluição encontrada no rio.”
Camilo Lemos, turista
frequente da região, também lamenta:
“Já estive aqui outras vezes,
mas nunca vi o rio desse jeito. A paisagem perdeu a vida.”
Setores afetados
acumulam prejuízos milionários
Dados da Associação
Peixe São Francisco apontam que setores como a pesca artesanal,
piscicultura e turismo já somam mais de R$ 15 milhões em prejuízos nos
últimos quatro anos. Segundo Almeida Jr., presidente da entidade:
“As baronesas envolvem os
tanques, reduzem o oxigênio e matam os peixes. Muitos pequenos produtores
abandonaram a atividade por falta de suporte e soluções.”
Por que as baronesas se
multiplicam?
Estudos da Fundação SOS Mata
Atlântica e do Instituto Trata Brasil mostram que:
- Apenas 37,9% do esgoto no
Brasil é tratado.
- Cerca de 70% da água potável é
desperdiçada.
- Mais de 27% dos rios monitorados
estão impróprios para uso.
Esse cenário de descaso com o
saneamento básico alimenta a proliferação das plantas invasoras e expõe a
fragilidade da gestão ambiental em diversas regiões.
Como resolver o
problema?
Três métodos são usados no
combate às baronesas:
- Controle químico –
pouco indicado por seu alto impacto ambiental.
- Controle físico –
remoção com máquinas ou manualmente, ainda ineficiente.
- Controle biológico –
estudo de espécies que possam conter naturalmente o avanço das plantas.
Mas, de forma
definitiva, a única solução eficaz é tratar o esgoto antes que chegue
aos rios, além de recuperar as margens e fiscalizar o despejo irregular de
resíduos.
O que pode ser feito?
A população pode e deve
contribuir:
- Evite o descarte de lixo em
ruas, rios e terrenos baldios.
- Exija das autoridades investimentos em
saneamento básico.
- Apoie projetos de recuperação ambiental e
educação ecológica.
Um alerta para todo o
país
A situação do Rio São
Francisco é um reflexo da crise ambiental vivida em diversos rios do
Brasil. Sem ações efetivas e contínuas, os danos serão ainda maiores para
as futuras gerações.
"As baronesas são só o
sintoma. O verdadeiro problema é a poluição que a sociedade ainda insiste em
ignorar." — destaca o ambientalista Jorge Silva, da
ONG Velho Chico Vivo.
Fontes:
- Fundação SOS Mata Atlântica
- Instituto Trata Brasil
- Associação Peixe São Francisco
- Entrevistas com moradores e comerciantes
- Observações locais em Paulo Afonso, Glória
e Jatobá (2025)
Por: Tiago Santos